CLUBE MUSICAL CIRCULISTA 1969 a 1981
Em 31 de janeiro de 1967, Ponta de Pedras, recebe com grande honra o ilustre chefe do Poder Executivo Sr. Antonio Malato Ribeiro (o Antonico), como o novo Prefeito do município pontapedrense. E em certa ocasião foi programada uma apresentação com alunos do jardim no salão paroquial, onde o Senhor Prefeito foi um dos convidados levando como acompanhante o Senhor Miércio Alcântara que neste tempo era o agente da receita estadual no município chamado de coletor.Lá chegando foi lhes oferecidos os primeiros lugares da frente. A peça da encenação começava representando uma Banda Musical, só que esta, era muda, sem instrumentos, apenas representada por gestos simples dos garotos.Esta cena da Banda Musical muda tocou profundamente no coração do prefeito, pois a música era a arte que ele mais gostava, imediatamente toma uma decisão: Conversa baixinho com seu companheiro de cadeira e lança o convite para que este o ajudasse a criar uma Banda Musical, só que esta fosse de verdade com instrumentos de metal onde se pudesse ouvir o som ou o timbre de cada instrumento usado.Naquele encontro dos alunos do Jardim da Infância com a presença do Prefeito foi o momento decisivo pra criação de uma Banda Musical em Ponta de Pedras.E em meio a tantos, o dedo do divino Deus apontou um: Sr. Martinho Pinheiro. Cidadão de idade avançada, alto, magro, tom de voz grave, falava quase sempre pausado, de família humilde, porém, muito rico em conhecimentos musicais.Este, depois de ouvir o convite, pensou e aceitou o desafio. Tomou sua mochila de viagem e no primeiro barco que partiu para o Marajó juntamente com seu amigo Miércio a que desembarcaram.Quanta alegria da parte do Senhor Prefeito, este procurou dar todo apoio necessário para que o trabalho fosse desenvolvido com eficiência. Deu-lhe a Sede do Círculo Operário pra sua moradia e ao mesmo tempo servia de Escola e no futuro para ensaios da Banda e assim aconteceu. Começam as aulas com 50 alunos. Enquanto isso o Prefeito continua entusiasmado com o projeto da Banda Musical, escreve para São Paulo e lá encontram a representação da Weril instrumentos musicais LTDA, onde faz a encomenda do instrumental, agora é só aguardar a chegada. De repente explode uma notícia na cidade; na semana vindoura deverá chegar na cidade de Ponta de Pedras o tão sonhado instrumental da Banda musical.O boato vai se espalhando de boca em boca, de aluno pra aluno e assim a pequena escola musical vira a maior novidade entre o seu povo, até que chega o dia esperado. Mais ou menos quase na hora de chegar o barco, todos os alunos juntamente com os demais curiosos correram pro porto (trapiche público municipal), aguardar a chegada do barco.De longe se avista o pequeno barco vindo de Belém capital trazendo o instrumental novo da Banda. Todos queriam ajudar a transportar os caixotes pra sede do Círculo Operário. Lá chegando foram abertos e colocados em exposição pra todos:
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CLUBE MUSICAL CIRCULISTA
1969 a 1981
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Uma Tuba Um Bombardino
Dois Trombones Dois Trompetes
Um Sax Soprano Um Clarinete
Um par de Pratos Um Surdo
Um Bumbo Uma Caixa-Tarol.
Ao todo dezessete instrumentos novos.
Quanta espera quanta ansiedade. Depois de mais umas semanas finalmente chega o abençoado fardamento. Muita alegria, muita animação. O povo também aguardava com muita ansiedade por aquele momento tão precioso pra ver a Banda fazer a sua primeira apresentação nas ruas de Ponta de Pedras.
A década de 60 já se despedia lentamente dando lugar pra um novo período que se aproximava, porém, naqueles 31 de janeiro de 69, Ponta de Pedras registrou um acontecimento marcante na vida do seu povo. Prefeito Antonio Malato e Mestre Matinho Pinheiro decidiram tornar realidade àquilo que por muitos anos fora um sonho: Criar uma Banda de Música de verdade, e agora estava pronta. Em frente a sede do Círculo Operário na Avenida Djalma Machado começa a organização para grande apresentação inaugural. Na frente marchava o arquivista com sua pasta em baixo do braço com tendo as partituras, o menino Emiliano Boulhosa Ribeiro de 5 anos de idade o (Milico) que era mascote da Banda, seguido de:
Tuba – José Ribeiro Tavares - (o Zé Pires)
1º Trombone – Eloíno Serrão Nonato
2º Trombone – Manoel Pereira da Silva
1º Trompete – Paulo Pereira
2º Trompete – Iracindo Dias Pereira (o apito)
Bombardino – Antonio Malato Ribeiro (o Prefeito)
Barítono – Altamiro Pereira Dias (o catito)
1º Clarinete – Antonio Pereira (o catumbi)
2º Clarinete – Manoel Bianor Machado
3º Clarinete – Armando Moraes Tavares
Sax Alto – Raimundo Lucas Tavares Pereira (o Lucas)
1º Sax Tenor – Edward de Araújo Malato Ribeiro
2º Sax Tenor – Sércio Pereira
Sax Soprano – Francisco de Araújo Malato (o Chiquito)
1ºSax Horn – João Pereira da Silva
2º Sax Horn – João Lobo
Pratilheiro – Pedro de Jesus Ferreira
No Surdo – André do Vale Ribeiro
Caixa-tarol – Sebastião Gomes Amanajás (o Babá) e
Bumbo – Wandk Gomes Amanajás, essa dupla de irmão faziam a marcação segura daquela nova Banda Musical que recebeu a denominação de Clube Musical Circulista e foi inaugurada em 3 de janeiro de 1969. Agora a Banda em desfile pelas ruas da cidade de Ponta de Pedras, o povo nas ruas ou em suas casas aplaudia de pé quando a Banda passava tocando os mais variados dobrados de seu repertório. Enquanto os músicos garbosamente desfilando, recebiam e agradeciam com humildade os aplausos do povo que não se cabiam de contentamento de felicidade. O nosso Mestre Martinho com sua idade avançada, naquele abençoado dia 31 de janeiro de 1969, viu todo seu trabalho coroado de Glórias no momento em que terminou a apresentação da nova Banda em desfile, o Clube Musical Circulista ele o entregou aquela organização para o Prefeito de Ponta de Pedras Sr. Antonio Malato Ribeiro que a partir daquela data o seria o Mestre – Regente da nova Banda. Agora o Mestre Martinho ficou apenas assessorando e escrevendo novas Músicas para enriquecer mais o repertório musical da Banda. Agora o clube Musical Circulista prossegue com a coordenação do Prefeito Antonio Malato Ribeiro, que além de regente mais tarde iria compor algumas músicas como Milico no Maxixe.
Milico era seu filho mais novo de nome Emiliano, que na época era mascote da Banda. Vestindo o uniforme da Banda (Farda) ele seguia marchando na frente, conduzindo em baixo do braço uma pasta onde continha as partituras musicais que seriam apresentadas naquele evento. Mais tarde escreveu outra Marcha em Dó Maior e ofereceu para sua neta Luciana, sendo mais completa: música e letra que assim o denominou;
Arrasta o Pé Luciana – Marcha
Letra
Arrasta o Pé Luciana
A folia começou
Seja bacana – não precisa sururu
Não adianta fofocar – vamos é aproveitar
Esta marcha é brasileira
Ronca a noite inteira
E não vai parar – arrasta – arrasta
II
Eu queria que não amanhecesse
Nem acabasse nunca mais o carnaval
E o patrãozinho me esquecesse
Não publicasse no edital
E a Luciana favorecesse
E nunca desse mais aquele vendaval
Depois desta composição, ele ainda escreveu mais três músicas, um samba que ele dominou de Recadinho, uma marcha que ofereceu pra outra neta de nome Adriana, e finalmente um Dobrado que ele deu o nome de “Da Terra ao Céu”.Todas essas músicas que o regente preparava, mais as que o mestre Martinho deixou, somando com as demais de outros autores, serviam pra enriquecer o repertório variado do Clube que já tocava todos os ritmos da épocaOs Campeonatos de Bandas
A Funarte, órgão responsável pelo desenvolvimento musical no Brasil, juntamente com o MEC (Ministério da Educação e Cultura), e o INM (Instituto Nacional de Música), em 1977 criaram o primeiro Campeonato Regional de Bandas. No Pará este projeto criou asas mais fortes tendo o apoio da Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo. Lançado o convite Ponta de Pedras se fez representar através do Clube Musical Circulista, que participou juntamente com as Bandas do Amapá, Sergipe, Manaus (uma Banda só de mulheres) e Fortaleza - Ceará. Nesta competição o Clube Musical Circulista alcançou a segunda colocação. No ano seguinte (1978) houve o Campeonato Estadual, e o Clube Musical Circulista apoiado pelo seu Regente Sr. Antonio Malato Ribeiro, num ímpeto de coragem enfrentou a já tradicional Banda 31 de agosto da cidade da Vigia (Região do Salgado), e com três músicas: Largo da Matriz- Dobrado- de Pedro Salgado / Exaltação ao Pará– Samba- de B. Nunes – e da Terra ao Céu- Dobrado– de Antonio Malato o regente do Clube Musical Circulista, conseguimos alcançar a pontuação desejada deixando a segunda colocação pra Banda 31 de agosto e recebendo o Certificado juntamente com o troféu de 1ºlugar, fato histórico que até hoje envaidece a todos os Pontapedrense.O grande ginásio do SESC na avenida visconde de Souza Franco na Doca ficou pequeno diante da imensa alegria do povo pontapedrense que pulava cantava e gritava de contentamento diante daquela merecida vitória do Clube Musical Circulista, naquela noite de 28 de julho de 1978.
No dia 25 de julho de 1980, os rádios de Belém anunciaram o falecimento daquele homem público Prefeito de Ponta de Pedras, foi um verdadeiro descontrole na população pontapedrense.Nesta manhã o Barco Raimundo Malato estava em Belém e diante do acontecido precisava chegar o mais rápido possível em Ponta de Pedras seu motorista não pensou duas vezes, apertou a acelerador e o barco passou a correr como voadeira. Aquele percurso que antes era feito em 04 horas neste dia foi feito em 120 minutos. (duas horas)A Banda que foi criada na sua primeira administração agora tinha o mais difícil de todos os seus compromissos, pois o referido gestor que também era músico e foi Maestro da Banda desde a sua criação, quando no seu trabalho de regente, revendo seu arquivo encontrou um Dobrado do autor E. Santos, dobrado em Lá menor denominado Um Adeus, este dobrado parece ter preenchido todos os requisitos musicais da sua alma, foi sua última paixão musical.Depois que ele estudou o Dobrado, começou a ensaiar com a Banda e passou a recomendar dizendo que aquele dobrado o Clube Musical Circulista tinha que tocar na beira da sua sepultura por ocasião em que seu corpo descesse a terra fria, sempre ele dizia isto. Só que jamais alguém pensou que isso fosse acontecer tão logo e tão rápido. Certamente o dia 25 de julho no calendário de Deus já estava marcado.Assim que a notícia correu de que o Prefeito de Ponta de Pedras tinha morrido, dentro do Clube Musical Circulista a preocupação foi total, pois logo veio na cabeça de cada músico a cobrança do tal Dobrado, mas quem seria capaz de tocar se todos estavam fortemente abalados pela perda daquele homem que foi o criador da Banda e regente da mesma até aquele dia.O Maestro da Banda era uma pessoa que conseguia ver as coisas além das aparências no presente, ele sempre conseguia como que prevê o futuro, por isso já havia escolhido até o dobrado a ser tocado no dia do seu funeral, Um Adeus. Realmente o nome dizia tudo, um adeus mesmo.Poderíamos nós imaginar a arranjo daquele dobrado, o andamento do compasso no tempo e contratempo se encaixando com perfeição quando bem executado. Somente ele o Maestro seria capaz de escolher e se deixar seduzir por aquela música, pois essa arte já o havia fascinado desde muito jovem quando a escolheu como a primeira entre tantas ocupações (trabalho), quis aprender, se aperfeiçoou e lá se foi o trompetista pontapedrense tocar a bordo de um navio em alto mar, tendo como acompanhante as ondas que sempre fazia o navio dançar juntamente com seus passageiros, e as estrelas que iluminavam sua mente voltada para Deus.A Música era tudo pra ele seu último dobrado que ele compôs como Regente da Banda o dominou: DA TERRA AO CÉU. Ele era uma pessoa muito ligada às coisas divina.E a Banda como fazer pra saudar seu último compromisso com o seu fundador, tocar o dobrado Um Adeus? Missão difícil.Mas compromisso e compromisso e promessa é dívida.
Um Adeus.
Foi um momento de silêncio total, apenas o som e o timbre de cada instrumento se fazia ouvir por toda a praça totalmente tomada pelo povo.Os Músicos discípulos daquele que foi o articulador da Banda, procuravam-se compenetrar da melhor maneira possível para executar aquele dobrado Um Adeus sua última paixão musical.Terminando este ato, o cortejo seguiu, e a cem metros lá estava o campo santo aguardando aquele seu filho ilustre, para encomendar para o paraíso da eternidade. Ele partiu mais suas muitas obras ficaram marcando a sua presença no tempo e no espaço, principalmente a Banda e o Barco.
Sercio Pereira